Medo do envelhecimento e a luta contra o Tempo
Reflexões sobre o envelhecimento em uma sociedade obcecada pela juventude eterna.
SAÚDE MENTAL E BEM-ESTARSOCIEDADE E COMPORTAMENTOREFLEXÕES SOBRE A VIDA
Psicóloga Janaína Gomes
1/25/20252 min read


Envelhecer. Apenas mencionar a palavra já faz algumas pessoas correrem para o espelho. Procurar novas rugas, linhas que não estavam ali ontem. Porque, no fundo, o envelhecimento não é apenas um processo biológico. É um ataque direto ao nosso ego, ao nosso senso de identidade e, mais cruelmente, ao valor que imaginamos ter no mundo.
Na sociedade moderna, envelhecer é praticamente um crime. Uma afronta à estética perfeita dos feeds do Instagram, uma traição ao mercado que lucra com a promessa de juventude eterna. Quem envelhece se torna invisível, como se fosse um erro no algoritmo social.
Você se lembra de quando, aos 20 anos, achava que "40 é velho"? Agora, com 30 e poucos, sente o peso do tempo no corpo. As costas que doem, o metabolismo que não é mais o mesmo, e aquele olhar inevitável para fotos antigas com a pergunta amarga: "o que o tempo comigo?"
E, claro, vem o medo. Não de envelhecer, exatamente, mas de tudo o que o envelhecimento simboliza:
A perda da aparência que você acredita definir quem é.
A sensação de ser deixada para trás, enquanto o mundo parece venerar apenas os jovens.
O terror de se tornar irrelevante, de ser esquecida, como um livro empoeirado na prateleira.
Não se preocupe: a indústria dos procedimentos estéticos está aqui para "ajudar". Com um preço, claro. Botox, preenchimentos, harmonizações, lipoaspirações. Cada linha do seu rosto é tratada como uma falha que precisa ser corrigida, cada ruga como uma inimiga a ser exterminada.
Mas, sejamos honestos: nada disso é realmente sobre beleza. É sobre controle. Uma tentativa desesperada de controlar o que não pode ser controlado — o tempo. É sobre lutar contra a inevitabilidade de se tornar aquilo que a sociedade despreza: alguém que não é mais jovem.
A ironia cruel? Por mais que tentemos esconder o envelhecimento, ele ainda está lá, silencioso, implacável, rindo da nossa tentativa fútil de enganá-lo. O resultado é um exército de rostos esticados, congelados em uma expressão artificial de quem grita: "Ei, eu ainda estou no jogo!"
O medo do envelhecimento vai além da aparência. Ele toca em algo mais profundo:
O pavor de não ter vivido tudo o que deveria.
A vergonha de olhar para trás e perceber os sonhos que ficaram pelo caminho.
O medo de que o futuro seja apenas um declínio interminável, e não uma nova chance de renascimento.
E aí está a verdade que ninguém quer encarar: talvez o que realmente tememos não seja o envelhecimento em si, mas a sensação de que desperdiçamos o tempo que já tivemos.
Enquanto gastamos fortunas tentando esconder nossas rugas, será que não estamos esquecendo que elas contam histórias? Que elas são marcas de uma vida vivida, com todos os seus erros, amores, perdas e conquistas?
E aqui vai a pergunta que talvez você evite responder:
Se o envelhecimento fosse visível apenas para você, e não para os outros, você ainda teria tanto medo dele?