Os honestos pagam pelos canalhas: como o homem hétero se tornou o inimigo número 1
Reflexão sobre as tensões entre homens e mulheres, o impacto das generalizações e o papel do homem honesto em um mundo marcado por desigualdades e abusos.
QUESTÕES DE GÊNEROSOCIEDADE E COMPORTAMENTOPSICOLOGIA E COMPORTAMENTO
Psicóloga Janaína Gomes
1/24/20252 min read


É quase impossível ignorar o clima de tensão que envolve as discussões sobre gênero nos dias de hoje. Nas redes sociais, em debates públicos e até nas mesas de bar, há uma percepção crescente: o homem hétero, antes visto como o protagonista natural da sociedade, agora ocupa o papel de vilão. Mas como chegamos a esse ponto?
Para entender, precisamos sair da superfície e mergulhar nas dinâmicas de poder, nos abusos históricos e, principalmente, no impacto das generalizações.
Nos últimos anos, vimos o fortalecimento de instrumentos legais que, com razão, protegem mulheres de abusos, violência e desigualdade. A Lei Maria da Penha e as medidas protetivas, por exemplo, foram vitórias importantes para corrigir séculos de desamparo feminino.
Mas em algumas situações, esses avanços têm gerado um desequilíbrio no campo jurídico. Casos de falsas acusações, pensões alimentícias desproporcionais e a alienação parental são exemplos onde homens honestos podem acabar pagando um preço alto.
A mulher, em determinados contextos, passou a ter mais poder jurídico — o que é justo quando se trata de proteção, mas perigoso quando usado como ferramenta de vingança ou manipulação. É aqui que o homem honesto sente o peso das atitudes dos canalhas.
Não há como negar que o histórico de abusos e violência masculina deixou marcas profundas. Homens que usaram seu poder físico, financeiro e social para dominar e explorar mulheres criaram uma atmosfera de desconfiança.
O problema é que essa desconfiança, em vez de ser direcionada apenas aos abusadores, muitas vezes recai sobre todos os homens. O canalha, que deveria ser o verdadeiro alvo, acaba arrastando o homem honesto para o mesmo rótulo. É o velho ditado - o justo paga pelo pecador.
E o homem honesto se pergunta: Por que eu devo carregar a culpa por algo que nunca fiz?
Generalizar é fácil. É a saída preguiçosa para um problema complexo. É mais simples dizer que “os homens são assim” ou que “todo homem é potencialmente perigoso” do que reconhecer que a sociedade é composta por indivíduos com comportamentos distintos.
Mas o preço dessa generalização é alto. O homem que tenta fazer o certo — seja cuidando de sua família, respeitando sua parceira ou sendo justo em suas ações — começa a se sentir alienado, atacado e, muitas vezes, impotente.
A solução não está em travar uma guerra entre gêneros. Está em aprender a diferenciar o abusador do não abusador. Está em equilibrar os direitos e responsabilidades de ambos os lados. E, acima de tudo, está em enxergar a humanidade no outro, sem preconceitos nem estereótipos.
Esse é um caminho difícil, porque exige que mulheres e homens enfrentem seus próprios preconceitos. Exige que as mulheres reconheçam que nem todo homem é uma ameaça e que os homens aceitem que muitas mulheres ainda têm motivos legítimos para desconfiar.
O homem hétero não precisa ser o inimigo número 1, assim como a mulher não precisa ser vista como uma ameaça ao seu lugar no mundo. Ambos têm algo a aprender e a ensinar.
Se queremos uma sociedade mais justa, precisamos sair dessa guerra fria entre gêneros e construir pontes. Porque, no final das contas, é na cooperação — e não na rivalidade — que homens e mulheres encontram a verdadeira força.