Você não sabe, você não é mãe

Como a maternidade idealizada e o preconceito contra mulheres que escolhem não ser mães afetam a liberdade feminina. Entenda os desafios e as reflexões sobre a escolha de ser ou não mãe.

QUESTÕES DE GÊNEROSOCIEDADE E COMPORTAMENTOMATERNIDADE E RELAÇÕES FAMILIARES

Psicóloga Janaína Gomes

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Culpa materna e pressão social
Culpa materna e pressão social

Ei você, mulher que escolheu não ter filhos, quantas vezes já escutou essa frase de alguma mãe queixosa ou em dificuldades na sua relação com a maternidade e educação dos filhos?

Eu já ouvi essa frase diversas vezes de mães amigas, de mães desconhecidas e até de minha própria mãe. Por muito tempo eu aceitei esse lugar de não saber por não ser mãe porque foi isso que escutei a vida inteira. Não aceito mais.

Existe um papel construído socialmente para a mulher que passa pela maternidade: uma maternidade idealizada, romantizada e com poucas conexões com a realidade. Existe também um preconceito social contra mulheres que deliberadamente escolhem não ser mães e que não sonharam em casar e ter filhos.

Arrisco dizer que aliado a esse preconceito pode haver algum tipo de ressentimento pelo fato das mulheres não mães terem mais liberdade para cuidar de si, investir em si mesmas, em suas carreiras e desejos.

Muitas vezes a maternidade acontece sem que haja um planejamento prévio por parte dos pais. Em outras ocasiões o desejo de ter um bebê é tão intenso que outros fatores igualmente importantes como idade e qualidade dos óvulos e espermas, disponibilidade emocional para cuidar de uma criança, rede de apoio aos pais, condições socioeconômicas, o lugar que esse novo ser está ocupando na relação do casal e na vida da futura mãe, entre outros, são completamente desconsiderados.

Mas você não sabe, você não é mãe..

Todos nós temos a experiência de sermos filhos. Todos nós temos memórias de situações boas e ruins vividas nessa relação. E é justamente a partir dessa experiência que aprendemos a ser pai e a ser mãe.

Inconscientemente repetimos padrões de comportamentos dos nossos pais. Aprendemos muitas coisas com eles. Em algumas ocasiões chegamos até mesmo a reproduzir conosco e com as outras pessoas a nossa volta a mesma forma de tratamento que eles nos deram. É desse modo que introjetamos autoritarismos, repressões sexuais, punições, crenças. Ao longo do nosso desenvolvimento vamos nos conformando corporalmente, emocionalmente e energeticamente para responder às situações vividas no ambiente familiar e social.

Se nos sentimos amados por nossos pais, se somos reconhecidos e validados por eles, fortalecemos nossa autoestima e aprendemos a confiar em nós mesmos e na nossa capacidade. Se ao contrário, somos superprotegidos ou severamente criticados e desqualificados constantemente, aprendemos nessa relação a não confiar em nós mesmos, nos sentimos inseguros, inadequados, ansiosos e com baixa autoestima.

Um outro ponto muito importante é sobre a falácia mãe sabe tudo. Mães, assim como os demais seres humanos, não sabem tudo. Mães também erram, muitas vezes tentando acertar, mas erram. E aí que entra a pegadinha social: se mãe sabe tudo, a sociedade vai cobrar tudo das mães. Se a criança aprende, não aprende; se é educada, mal-educada; rebelde; tímida; namoradeira; se engravidou na adolescência; usou drogas; tacou pedra no telhado do vizinho, é tudo culpa da mãe. Da mãe, não do pai, da mãe porque mãe sabe tudo

Mas você não sabe, você não é mãe.

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